Ao recentemente reencontrar meu velho amigo de infância, José Roberto Guedes de Oliveira, muitas imagens me vieram à memória. Convivemos alguns anos de nossa adolescência em Capivari, cidade do interior de São Paulo, origem espaciotemporal daquelas imagens. Dezenas de anos estão implicados nessa memória distante da adolescência e, ao seu longo, não contei com quaisquer madeleines que me auxiliassem revivê-la. Imagens contidas nela, por vezes, vieram por vieses mais oblíquos, involuntários também, como queria Proust. Um deles foi a retomada de contato com o autor desse livro, que generosa e pacientemente me fez lembrar uma fenomenologia perdida no esquecimento que o Tempo nos impõe, quando nos solicita estar atentos ao aqui e agora para não errarmos muito no que está por vir. O passado parece estar apenas tácito na escritura do que agora somos e fazemos de nós mesmos na direção do que no lá adiante queremos. Mas foi assim, por esse involuntário encontro com José Roberto que Capivari ficou redivivo em mim e me fez repensar esse pedaço de vida distante. Nada escrevi para buscar um tempo perdido. Não o tendo buscado, ele, o tempo, em verdade, veio ao meu encontro, como se ele estivesse em busca de um adolescente perdido, e a razão para assim ser, suponho, ficará sempre desconhecida, uma vez entregue a esse poderoso e cego deus chamado Acaso. Esse livro de José Roberto cumpre esse papel. Escrito por quem ama escrever e o faz com maestria, busca trazer aquilo que tem significado em vida e no tempo permanece. Não à toa, são crônicas. Cronos revivido e ressignificado. Que cada um de vocês, leitores, possa identificar suas madeleines e acompanhar o prazer desse feliz encontro saboreando, também, proustianamente, o mais perfumado dos chás. Ivo A. Ibri – 09/07/2019 - escritor, editor, filósofo e professor. Foi presidente da Charles S. Peirce Society (EUA).