Terceiro livro da Trilogia da Escuridão, Crônicas de uma noite eterna é a mais dramática das três narrativas. Seu protagonista encontra-se numa cidade fantasma habitada por estranhos simulacros humanos que, em certas ocasiões, são por demais impertinentes com suas críticas ácidas ou simples presença, e em outras se fazem estritamente necessários quando o tédio, a angústia ou o medo o assolam, revelando-se compreensivos e solidários para com o seu dilema. Contudo, essas criaturas não são o seu maior problema. Ao mistério que o envolve - o desconhecimento de sua identidade e de memórias que possam testemunhar a existência de um passado e a permanente dúvida quanto à razão de sua presença neste lugar - somam-se a incongruência de uma cidade abandonada, com ruas, calçadas, muros, casas e tudo o mais que a compõe carcomidas por um tempo suspenso dentro de uma noite enfadonha e eterna. Um imperativo interno comanda sua vontade: ele precisa urgentemente desvendar o mistério que o envolve sob o risco de permanecer neste local lúgrube por toda a eternidade. Para dar cabo dessa tarefa, mune-se de um ímpeto admirável, porém, vê-se muitas vezes dissuadido de seu intento por um temor corrosivo de que sua presumida identidade e um suposto lugar onde sol e noite se intercalam, não passam de quimeras que desenvolveu como antídoto contra a rotina angustiante dessa noite sem fim na qual se encontra imerso. Todavia, quanto mais próximo da verdade, mais complexo se apresenta o seu dilema.