APRESENTAÇÃO Quando me deparei ante a essencial e sacrificante necessidade de escrever o 'Cristal sob o chão' enfrentei uma circunstância bastante peculiar: O quão difícil e tortuoso é falar de Teodora. E o pior foi passar para o papel um pouco de sua história de vida. Reconheço agora que isto não foi uma das tarefas mais fáceis que já cumpri, ou que julgo tê-la cumprido. A Teodora retratada neste "Cristal sob o chão" não chega a uma milésima parte do que ela realmente o é em pessoa e, principalmente, em vivência. A sua personalidade, tão vasta; os seus modos diversificados; a sua figura emblemática; o seu amor singular; o seu significado ímpar; suas ideias e decisões irredutíveis são retratos vivos que somente quem a conhece, e muito bem, possa descrevê-los. Mas foi isto que me deu prazer em escrever este "Cristal sob o chão". Deparei-me com uma obscuridade que realmente não conhecia. Algo oculto, qual fosse uma semente, ou, como bem intitula o livro, um cristal sob o chão a ser descoberto e que dá muito prazer àquele que o descobre. No decorrer dos dias descobri mistérios e segredos que jamais pensei em encontrar. A par disto, passei a escrever este "Cristal sob o chão" como se o meu infindável ato de escrever fosse nascença primeira, como se o fizesse pela primeira vez. E para que se confirmasse a dificultosa e sacrificial tarefa em fazê-lo, eu o fiz como o quis: escrito com a cor viva do sangue. Pois é esta a cor que permeia a vida de Teodora. O "Cristal sob o chão" reúne o pouco do que pude absorver da minha convivência com Teodora. Do que ela pode, ou quis, falar. E, naturalmente, do que eu me propus a querer retratar. Um passado igual ao dela é matéria para mais de século de estudo. Um passado de dias tão díspares, tão silenciosamente vivido, tão estranhamente aceito é apenas um passo na longa caminhada que começou aos Vinte de Março de Mil Novecentos e Vinte e Dois e que ainda tem estrada para se andar. Toda a vivência de Teodora supera, em muito, parcas páginas de um simples livro, ou, como sei que dirão alguns (possíveis) leitores: débeis páginas de um livro muitíssimo mal escrito, muitíssimo mal elaborado. Ora, se nunca me ative a estas críticas, não seria agora que me entristeceria com isto. Leitores são leitores, poetas são poetas. Partes opostas de um mesmo ímã, do grande imã da vida. O que sei como poeta é que fiz o que pude para passar um pouco da vivência de Teodora. De suas dores, seus temores, suas angústias, suas decepções e também (porque não) suas muitas alegrias. As páginas da vida de Teodora superam tudo o que o leitor deste livro possa pensar. A vida de Teodora teve, tem e ainda terá a capacidade de se revelar em tamanha diversidade e ousadia que poucos possam entender. Eu creio que isto tenha a ver com o amor com que ela coloca em tudo o que faz. Até mesmo nos atos de repressão e de severas críticas pode se encontrar um ato de amor. Por se tratar de uma história verídica, com todos os erros e acertos recorrentes a ela, julgo não haver controversas por parte dos meus (possíveis) leitores quanto à veracidade de tudo isto a que me propus a dizer. Teodora, no decorrer do livro deu-me sábias e admiráveis lições. Disse-me, que em muitas situações desesperadoras, ela pensou em partir em busca de aventuras, de buscar novas possibilidades de vida, contudo, os filhos, principalmente os filhos (mais que o amor que sentia por Leopoldo, ou do amor de Leopoldo por ela), sempre a fez aquietar-se e a se acostumar com a situação intermediária da vida (segundo ela, a mais adequada à felicidade humana, já que não está exposta às misérias e dificuldades, às labutas e aos sofrimentos da parte mecânica da humanidade, nem se encontra embaraçada pelo orgulho, luxo, ambição e inveja da parte alta). Fiquei sinceramente tocado com as palavras de Teodora.