No momento atual, vivenciamos uma crise do processo civilizacional (visão de mudo) da modernidade, de seu império cognitivo e de seus sistemas econômicos, o capitalismo e o socialismo. Portanto, não se trata apenas de estarmos diante do desafio de enfrentar as crises dos sistemas econômicos, mas do de enfrentar a crise de esgotamento de um processo civilizador. Nesse sentido, o enfrentamento das crises econômicas desvinculadas da crise civilizatória torna-se insuficiente, pois não existe sistema econômico sem um padrão civilizador, mas padrão civilizador com sistemas econômicos. Para parte dos pensadores decoloniais, o esgotamento do projeto de modernidade se revela na sua incapacidade de cumprir sua promessa emancipatória por meio de seus sistemas econômicos. Assim, a superação sistêmica (do capitalismo e do socialismo) não é uma resposta suficiente para a crise da modernidade.
Em tempos em que diferentes agentes anunciam o fim da história e a morte do sujeito como forma de neutralizar toda oposição reflexiva crítica a respeito da racionalidade instrumental, em que a chamada extrema-direita flerta com o protofascismo e a esquerda adere ao neodesenvolvimentismo keynesiano como projeto político, vimos estabelecer-se a visão sistêmica como pensamento único. Diante desse fato, tenho dito que o capitalismo é de esquerda e de direita. O anticapitalismo é dionisíaco. É transgressão da ordem, é desobediência epistêmica e política. Todavia, quando passei a entender que a crise que vivemos/presenciamos é maior do que a crise do sistema capitalista, que se trata da crise do padrão civilizatório moderno, passei a entender, junto com alguns pensadores decoloniais da rede Modernidade/Colonialidade, que o capitalismo e o socialismo são projetos da modernidade. As revoluções da modernidade: a Revolução Burguesa, a Revolução Industrial, a Revolução Francesa, a Revolução Americana, a Revolução Mexicana, a Revolução Russa, a Revolução Chinesa, a Revolução Cubana, a Revolução Nicaraguense, a Revolução Cultural, a Revolução Sexual, a Revolução Urbana, a Revolução Tecnológica, etc., são revoluções sem emancipação. A libertação, o giro decolonial, é um horizonte civilizatório outro; transmoderno e pluriversal. É sobre essas reflexões, portanto, que este livreto pretende puxar conversa.