"É muito chato fazer 50 anos, é muito chato envelhecer, é muito chato ter que levar os óculos para todo o lugar.
É muito chato ter que ir ao médico fazer exames preventivos, exame disso, exame daquilo.
É muito chato perceber que para perder a barriga, só mesmo a lipoaspiração.
É muito chato aquele monte de cabelos brancos na barba, no peito, no bigode. Mas, o mais chato de tudo é aquele tédio inevitável da meia idade, aquele gosto enjoativo do já-visto, aquela sensação de reprise, aquela certeza de saber como tudo vai terminar e aquela terrível
saudade da ingenuidade perdida.
Foi com esse espírito, em plena crise da meia idade, que resolvi escrever este livro. O meu desconforto foi amenizando à medida que fui percorrendo o meu caminho. Percebi que vivi emoções muito intensas, porque gosto delas; percebi que fantasiei muito, que pintei os quadros dos acontecimentos com tintas fortes e coloridas, porque é assim que gosto de sentir a vida; e constatei que nem sempre soube administrar os meus desejos não-autorizados, mas pelo menos, eu tentei."