No Brasil contemporâneo, fundamentalmente após o período de redemocratização e, com o advento da Constituição dita cidadã, em 1988, inúmeras discussões passaram a ser pautadas no que tange às relações raciais de modo mais assertivo e propositivo, principalmente as questões das ações afirmativas, genericamente falando, e das cotas raciais, de modo específico, sendo essas cotas reivindicação basilar e nevrálgica de alguns dos Movimentos Sociais Negros, visando o possível acesso à educação superior, numa perspectiva de eventual mobilidade social ascendente e, via de consequência, possível transformação social. Com essas considerações, elaboramos algumas questões para o desenvolvimento do estudo, quais sejam: quais razões levam pretendentes ao ingresso à universidade pública optar, tendo em vista o pertencimento racial ao segmento negro, pelo sistema universal de tentativa de acesso, abrindo mão da possibilidade de ingresso via cotas raciais, inclusive conforme previsão legal vigente? Há ressalvas no tocante à auto/ heteroclassificação e pertencimento racial pelos(as) postulantes no momento da inscrição formal ao certame de seleção?
Como se posicionam e justificam tais posturas de heteroidentificação alguns(as) estudantes que ingressaram numa universidade pública do porte da UNIFESP, sendo negros(as), abrindo mão da concorrência via cotas raciais e optando pela disputa via sistema universal? Como os(as) estudantes compreendem o sistema de cotas raciais e como se dão as relações entre negros(as) cotistas e não cotistas no ambiente universitário?
Há ações discriminatórias no interior do campus? Cotas raciais podem ser encaradas e/ou opostas, num confronto direto a mérito, privilégio e direito?
Há receios fundados no que se refere aos possíveis julgamentos e análises de aferimento dos gradientes cromáticos feitos pelos chamados "Tribunais Raciais"? A universidade pública é um território hostil aos(às) negros(as) que ingressaram na UNIFESP, campus Guarulhos, seja via cotas raciais, seja por intermédio do sistema universal? São algumas das questões, dentre outras, que abordamos neste livro.