A proposta geral foi uma análise da jornada do vilão de Joker (2019), do diretor Todd Phillips. O filme se destaca, em meio às demais adaptações das HQs da franquia de Batman, por evitar embates dicotômicos entre o bem o mal. Ironicamente, a premissa criada por Phillips é marcada justamente pelo oposto: a perda de controle, em um universo urbano onde Batman ainda não existe e o caos é agravado nas ruas de Gotham, cada vez mais imundas e violentas. Ao analisar a obra, chega-se a conjecturar a hipótese: e se a criação da persona Arthur Fleck não for uma tentativa de humanizar o Coringa, mas sim uma catarse baseada em memórias imaginárias? Partindo dessa hipótese, o final desmascararia a hipocrisia, uma vez que os argumentos usados para que o público simpatizasse com o vilão e justificasse os crimes dessa figura vingativa fossem, na verdade, meros frutos das suas memórias distorcidas. No final, o Coringa dançaria e zombaria daqueles que acreditaram em sua história. Para comprovar a hipótese, o objetivo desta pesquisa foi realizar uma análise dos aspectos estético-narrativos de Joker (2019). O processo foi dividido em duas etapas: primeiramente efetuou-se a decupagem dos elementos fílmicos, para posteriormente realizar a interpretação e reconstrução do filme tendo em conta os elementos decompostos. Adotou-se como metodologia a análise fílmica, com aporte teórico nos conceitos de Aumont (1995), Penafria (2009), Xavier (1983) e Vogler (2006), entre outros estudiosos sobre o tema.