Nesta coletânea de dezessete contos, despretensiosamente, passeio com meus personagens, aonde o imaginário me conduzir. Muito custou colocar cada cria fora de casa, o medo natural de ganhar o mundo. Outras precisam chegar. Longe estou de habitar as terras de Macondo do grande Gabriel, muito menos de ensaiar a cegueira e as loucuras do genial Saramago. Simplesmente gosto da liberdade do surreal, onde posso ter a onipotência dos deuses, que me permitem emprestar minhas ideias e caneta ao Juca — meu cão, permitindo àquele “Adorável ranzinza” lançar sua autobiografia póstuma não autorizada; incentivo nas “Retrospectivas” o amor e o prazer de um casal quase octogenário; em “Tenro” enveredo pela corrida de um espermatozoide chegando e fecundando o pódio, sem aplausos nem aconchego; ousado, tomo o lugar do Gabriel García Márquez nos contos que ele gostaria de haver escrito, ao descrever os labirintos de um sonho, no “Imaginário”, são vários os corpos visitados. Como se buscasse oxigênio, volto ao real da superfície indo ou (não) ao “Casamento”, contraceno uma “Peça inacabada”, separo casais numa “Manhã de dezembro” e participo do “Crime da Rua do Gás”. Brincando com realidade e ficção. Voltemos à segurança da Terra do Nunca, aonde chego em plena Conferência Nacional dos Anjos do Brasil, que decidirá nosso prazo de validade, com “Fim de mundo”; visito também a Comunidade LGBT... (em alguns contos), em que promovo a separação de um casamento de duas senhoras com setenta anos em “Inexorável traição”; no “Contraditório” extrapolo meu direito de ampla defesa, para provar minha sanidade deixada pelo Alzheimer, e amparado nele mato alguns personagens de outros contos, além de brincar com a minha sombra, ufa! Ao final, assistindo de camarote a uma confusão, entendi a necessidade de encerrar o livro com “O bate-boca”, briga boba da Vida com a Morte. Confiram, capaz de ter muito mais.