Passava da meia-noite, talvez uma, duas da madrugada. O amplo quarto da casa de veraneio estava na penumbra. O casal dormia. De súbito, Letícia abriu os olhos. Ergueu-se e sentou-se na cama. Com os olhos vidrados, parecia não está ali, mas sabia muito bem o que fazia, e assim, descalça e vestida numa camisola de seda branca, contrastando com o seu corpo negro, dirigiu-se à porta do quarto, girou-lhe a maçaneta e saiu, seguindo calma pelo corredor de acesso à ampla sala da casa. Parou um instante, virou-se, e continuou andando rumo à porta principal. Ao abri-la, correu o olhar pela varanda, depois sentou-se numa cadeira confortável, e ficou ali numa aparente abstração, diante da beleza noturna, contemplando-a com os olhos perispirituais expansivos, por assim dizer, transportando-se espiritualmente para mais perto das constelações estelares ou do brilho esplêndido do luar. Após algum tempo, ela fez o percurso de volta e deitou-se novamente. (Trecho inicial de A SONÂMBULA, um dos contos impactantes e interessantes, constante nesta Obra)