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Contos da Comarca

Contos da Comarca

Sinopse

Contos da Comarca, como o próprio nome sugere, é uma coletânea de episódios vivenciados por um novel Juiz em diversas comarcas do interior do Piauí, em situações insólitas uns e hilárias outros. Segundo o narrador, o Juiz, a exemplo de Quixote é dono de um espírito aventureiro e romântico, fortemente inspirado pelos cavaleiros andantes da Idade Média e, como sói acontecer com estes, costuma apaixonar-se, perdidamente, pelas donzelas airosas e belas. Coincidência ou não, o Juiz também revela traços de Robin na proteção e defesa dos desvalidos, usando seu poder judicante para amenizar suas dores e mazelas. As narrativas, de forma geral, apresentam os mais diversos circunstantes: A Irmã Cidinha, de profundos olhos azuis e doce voz, a levar ao conhecimento do Juiz os delitos cometidos por homens violentos e, outras vezes, a suplicar por esses mesmos homens, em nome da necessidade por que passa a família: "ruim com ele, pior sem ele", como bem define a máxima popular. Os Promotores, zelosos em seus misteres uns, com calculada parcialidade outros, a enriquecerem os contos com suas habilidades, sagacidades e suspeitadas ingerências. Os Prefeitos e suas artimanhas, quase sempre a desafiar a lógica e a ética. O Cura, costumeiramente arredio, porquanto absorto no apascentamento de suas preciosas ovelhas. Os serventuários da Justiça, nomeadamente o Oficial de Justiça, carinhosamente chamado de meirinho que, por sua maior proximidade com o Juiz e os fatos, é carta em evidência no baralho da vida na Comarca. E, mais especificamente, a escrivã Filomena Lustosa e seus arroubos na defesa dos necessitados, em constante peleja, junto ao Juiz, para os favorecer. A Força Policial, geralmente composta, apenas, por um Delegado e dois Praças que, no caso da Comarca de Caracol, faziam suas vezes o Cabo Chagas e os Soldados Estêvão e Daniel. As estradas acidentadas, longas e sinuosas, cortadas algures e alhures por passagens molhadas, de largos caudais, por ocasião do período chuvoso que, nos nossos sertões, costumamos chamar de inverno. As meninas-moças e as gentis donzelas, cujos brilhos e magnificências ofuscavam e feriam a menina-dos-olhos do inditoso Juiz. O Rio Parnaíba, caudaloso e temido, a molhar com suas águas a Comarca primeira, onde nosso herói se fez Juiz. Longe das Comarcas, em anos que as precederam, o futuro Juiz já se via às voltas com Cupido e, como não podia deixar de ser, a exemplo do que acontecera com o Cavaleiro da Triste Figura¹, costumava levar a pior. Aventurou-se nosso personagem, também, pelo campo largo da ficção, sentando praça na temida Legião Estrangeira, como forma de sufocar seus sentimentos nobres, mas, como tais, vulneráveis ao desdém da Pretendida. Faminto, o cãozinho do Raimundo Josenias Pontes, transmudado em moeda de troca entre este e Dona Vitalina, então sequiosa dos pérfidos carinhos do Raimundo. A longínqua Comarca de Toboso, para além dos arrabaldes de São Raimundo Nonato. Ainda para além do Fidalgo. Toboso testemunhou, silente, o desvario do Juiz que, entre bobo e encantado sentiu, em meio àquele enlevo que o embriagava, que a jovem exalava o perfume doce da bonina e que seu hálito, fresco como o Aracati que sopra do mar, rescendia à flor de laranjeira. O amor menino que brotou, intenso e cândido, na vermelha areia molhada daquela rua distante, sob a chuva que caía a cântaros na tarde que se despedia, enquanto a noite, pressurosa, estendia seu manto de azeviche sobre as ruas e as gentes.