A obra está exposta em vários eixos: o cotidiano com episódios corriqueiros da vida ("Café da manhã", "Fotografando, esqueci de viajar", "Almoço de domingo", "Luto", "Poema do condomínio", "Sopa da vovó"), poemas de amor ("Como prender meu amor a mim?", "Como prender a brisa?"), místicos ("Tentando ler Rumi"), devocionais ("A oração não pede, não suplica") escatológicos ("Pantagruel"), ternura ("Meu cachorro de vidro").
Os poemas são apresentados em versos livres, utilizando-se recursos como analogias, metonímias, homofonias, homografias, metáforas, consonâncias, calembures, e até rimas, imprimindo ao texto a musicalidade necessária. Tais recursos são articulados em expressões por vezes chocantes, impactantes, conduzindo à surpresa, ao extasiamento e ao assombro ante os atributos do humano veiculadas por imagens de vívido e desconcertante colorido. As palavras compõem uma compassiva harmonia que, como tênue sopro, fazem transudar do poema uma sutil essência: a poesia.
Utiliza-se com frequência a linguagem paradoxal como os místicos. Assim, a palavra é considerada um veículo e um limitante comunicacional. Significativo é o trecho: "O leitor faz poesia enquanto lê. Cada verso é único, cada momento é único". Cada poema tem um significado específico para cada leitor. A função do poeta é incitá-lo por meio de um caminho mágico, desconstruindo as palavras, mas gerando uma cadeia associativa que produza uma correspondência entre conteúdos comuns ao emissor e receptor, que se configura nos arquétipos, objetos comuns a toda humanidade. Poesia é o diálogo interno da integração autor/leitor numa única entidade e que navega numa herança ontológica comum arquetípica, não verbal, enriquecida de expressões inscritas na memória cultural comum específica de um povo. Portanto, a cada releitura a poesia será ressignificada, terá sempre um sentido diverso do da leitura anterior.