Reavivar a identidade de remanescentes de quilombos e sua ancestralidade, amparados pelo Artigo 68 da Constituição de 1988, foi a oportunidade encontrada pelas comunidades rurais negras do Vale do Ribeira para contrapor aos conflitos territoriais que emergiram na região após os anos de 1950. O direito constitucional conquistado pela luta do movimento negro, em defesa da propriedade das terras quilombolas no Brasil, trouxe para essas comunidades rurais uma garantia dos seus direitos étnicos e culturais. Dessa luta emergiu o processo de reavivamento da memória coletiva, e com a valorização das tradições culturais aflorou a resiliência ao modo de vida tradicional, entrelaçados ao meio em que vivem. As territorialidades construídas pelos remanescentes de quilombos se firmaram pela resistência às pressões externas sofridas em torno de seus territórios. Esse livro tem o propósito de contar a história de ocupação das comunidades de quilombos no Vale do Ribeira, uma vez que foi nessa região que iniciou a luta do movimento quilombola no Estado de São Paulo, pelos conflitos que afloraram com mais força nas décadas de 1980-90 pelas ameaças da construção da Hidrelétrica Tijuco Alto, no Rio Ribeira de Iguape, pela criação de Unidades de Conservação sob parte de seus territórios. Esses conflitos territoriais deram impulso para cobrarem do Estado o cumprimento do ADCT 68 da CF em defesa de seus direitos como cidadãos e implementação de políticas públicas a essa população negra rural.