Ser mãe é padecer num Paraíso, ensinou-nos o famoso verso de Coelho Neto que, com o passar dos anos, transformou-se em provérbio no Brasil. Mas, e quando o padecer inclui não apenas as atribulações da maternidade, mas o desafio de exercê-la em um novo país, em uma nova língua?
Como ser mãe em hebraico é um livro de crônicas como poucos. Nurit Gil tem o dom de escrever com tamanha verdade e leveza que o leitor se sentirá em uma agradável conversa com sua melhor amiga, regada a suco de maracujá e hummus, a Brasil e Israel. A obra é um importante registro de uma vivência pessoal, mas universal e pouco abordada em nossa Literatura – esse entrelugar no qual já não te sentes mais de tua pátria, mas ainda não és parte da nova terra que adotaste. Neste sentido, o livro abraça vários leitores: os interessados na rica aventura de mudar de país – e de língua, e de costumes –; os que compartilham da paradisíaca experiência da maternidade – e da paternidade, obviamente; e os que adoram ser guiados pelas palavras de uma cronista genial, de escrita límpida e, ainda assim, profundamente humana.
Uma das funções da Literatura sempre foi propiciar aos leitores a oportunidade de viver certas situações – e aprender com elas – sem, necessariamente, passar pelos mesmos padecimentos. Então, aproveite, caro leitor: Nurit irá guiá-lo por um caminho que, provavelmente, nunca trilhaste – e, se reconheceres a ti mesmo em várias passagens destas crônicas deliciosas, não te surpreendas. Esse é o sinal de que tens em mãos o trabalho de uma ótima escritora.
Robertson Frizero