O horizonte reflexivo no qual a obra que o leitor tem em mãos se movimenta não é outro senão aquele determinado pela questão sobre o estatuto desta coisa que nós mesmos somos. O professor Alex F. Correia Jardim não declarará isso explicitamente; sua prosa é demasiado sutil e seus argumentos, demasiados ricos para assim fazê-lo. E, no entanto, é justamente isso que está em causa na sua obra. Qual é o estatuto do que nós mesmos somos, quando compreendemos, definitivamente, que somos algo mais que um Eu, ou um Sujeito fechado, consciente de si mesmo, que se deparará, posteriormente, com um mundo, e com os outros, ou com a ausência destes? Precisamos, para abordar esta questão, pensar no coletivo, precisamos, sem dúvidas, pensar na linguagem e seu campo de circulação, precisamos, enfim, determinar a topologia e as categorias deste encontro com o outro. Todos esses elementos analíticos são mobilizados com uma sensibilidade singular no texto de nosso autor – a partir de novos agenciamentos, a partir de novos encontros e alianças, para dar a um problema de antiga linhagem filosófica uma voz atual, uma voz urgente. Assim, Husserl e Deleuze convivem no mesmo território, num "acordo discordante" que se torna, na letra do Alex, uma potente e fértil experiência do pensamento.
Eladio Craia