Até o final do século XIX o pão não fazia exatamente parte do cotidiano da cidade de São Paulo. A farinha de trigo era escassa e rara e a primeira refeição do dia da maioria da população não incluía pão feito com trigo e sim bolos, farinhas e biscoitos de outras farinhas e massas.
O aumento da produção de trigo no norte dos Estados Unidos e na Rússia em meados do século XIX, com novas técnicas de plantio e de colheita, possibilitou um significativo aumento da produção e da exportação mundial. Aliado a isso, o número de imigrantes europeus, em especial os italianos, também aumentou significativamente no Estado de São Paulo, o que causa um significativo aumento da demanda e no consumo de pão na cidade.
Os costumes, em especial na cidade de São Paulo, se europeizavam tanto na prática quanto no cotidiano dos imigrantes que demandavam os produtos que estavam acostumados nos países de origem. Para a elite paulistana o trigo também significava o pertencimento à civilização europeia.
Na virada para o século XX, a cidade já comportava um número significativo de padarias e quitandeiras, as vendedoras de pães e bolos feitos com farinha de trigo pelas ruas.
Em Comer o pão, viver a cidade: classe, etnicidade e sociabilidades em São Paulo no começo do século XX, Ana Lúcia Duarte Lanna vai, com sensibilidade e apuro de uma pesquisadora rigorosa, recuperar a importância do pão no dia a dia da cidade que se transformava rapidamente.
O pão e a cidade acabam por se entrelaçar na história urbana de São Paulo – tornam-se indissociáveis e passam a fazer parte da paisagem da cidade. Até hoje, as padarias paulistanas são uma marca da cidade e produzir um bom pão é praticamente garantia de fregueses fiéis. São pontos de encontro e de sociabilidade, além de lugares de alimentação e minimercados.
Neste livro, essa história se desvenda em múltiplas leituras e possibilidades e convida o leitor para um passeio pela tão interessante história do pão na cidade.