Em seu primeiro livro de não ficção, Comer animais, Jonathan Safran Foer, autor do premiado Tudo se ilumina, publicado pela Rocco, mergulha no mundo da chamada pecuária industrial nos Estados Unidos – a criação intensiva de aves, porcos e bois –, assim como na pesca em larga escala e suas implicações para o meio ambiente. Após três anos de pesquisas, o resultado é um panorama assustador. Para que, levando em conta a inflação, a proteína animal custe hoje mais barato do que em qualquer outro momento da história americana, animais são submetidos a maus-tratos e abatidos para o consumo deformados e doentes; há pouco ou nenhum escrutínio público e supervisão eficiente por parte das autoridades sanitárias; rios e cursos d'água subterrâneos são poluídos por excrementos e dejetos da produção, com os custos, no sentido mais amplo da palavra, repassados à sociedade; e os ecossistemas do planeta correm risco de colapso em um futuro não tão distante.
Vegetariano esporádico, Safran Foer começou a pensar mais seriamente em suas opções alimentares quando seu filho mais velho nasceu. A preocupação com a origem da carne e a forma como é processada o levou a investigar a indústria alimentícia e, apoiado em estatísticas do governo americano e em fontes acadêmicas e industriais, ele teve a oportunidade de ouvir insiders do negócio, cientistas, membros de entidades defensoras dos direitos dos animais, chegando até mesmo a invadir uma granja e a testemunhar as terríveis condições do local.
Safran Foer propõe um debate ético sobre o consumo alimentar dos animais. Ele defende o vegetarianismo como uma opção mais sensata de pecuária e um onivorismo mais honrado, que traga benefícios para o meio ambiente. O escritor também advoga um retorno ao antigos métodos de criação, menos traumatizantes para os bichos e para os ecossistemas, a imagem da fazenda bucólica tão associada aos valores americanos e que, hoje, representa apenas 1% de toda a produção nos Estados Unidos. Em última análise, Safran Foer pede aos leitores que ponderem sobre a decisão moral de comer outro ser vivo e que, se necessário fazê-lo, lutem por mudanças que permitam aos animais serem tratados com compaixão e dignidade, de forma que mesmo o abate seja feito de maneira que provoque o mínimo de sofrimento possível a aves, porcos e bois.