O magistrado Giovanni Falcone, nascido em Palermo em 1939 e assassinado em 1992, quando a máfia fez explodir a estrada e as viaturas que o conduziam ao aeroporto daquela cidade, transformou-se num símbolo para os juízes italianos e, por que não dizer, figura emblemática para todos os magistrados do mundo ocidental.
A sua coragem, a sua capacidade de trabalho, a determinação visionária, a sua competência aliada à de seu conterrâneo Paolo Borsellino e a de outros magistrados que integraram o lendário movimento das "mãos limpas", na luta contra o crime organizado na Itália, tiveram resultados extraordinários, conseguindo colocar a máfia de joelhos, levando a julgamento centenas de mafiosos no chamado maxiprocesso e obtendo o apoio da sociedade no enfrentamento da corrupção enraizada nos poderes públicos daquele país.
Seu retrato sereno está hoje estampado em praticamente todos os gabinetes dos juízes italianos e também nas escolas e na prefeitura da Sicília, como exemplo a ser seguido.
A situação política da Itália não é diferente do deplorável aniquilamento ético das instituições brasileiras, com o crime organizado e a corrupção estendendo seus poderosos tentáculos em todas as direções.
Ao colaborar com a edição desta obra, o Colégio Permanente de Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil tem em mira levar aos juízes brasileiros o conhecimento de um pouco da vida dessa extraordinária figura humana, desse juiz exemplar.
Em conversa que tive com Giovanni, no início dos anos 80, indaguei se valia a pena viver de forma tão limitada e restritiva, como era seu cotidiano. Ele respondeu: "Fiz um juramento quando ingressei na Magistratura; vou cumpri-lo. Além do mais, preciso mostrar ao mundo que a Itália não é a máfia."
Os juízes brasileiros também precisam mostrar ao mundo que o Brasil não é o antro de corrupção que nos envergonha.
- Desembargador Marcus Faver Presidente do Colégio Permanente de Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil