Cloeh e Geraldo são leais, tanto um ao outro quanto aos amigos e companheiros, mas contestam a forma reacionária do matrimônio burguês monogâmico, cujas características constituem uma essência deletéria, patriarcal, machista, misógina, ciumenta, truculenta, racista, escravagista e colonial. Trata-se de uma espécie de casamento edificada historicamente sobre dois conceitos fundamentais: a consubstancialidade e a coextensividade com o modo de produção capitalista moderno (construído nos séculos XVIII e XIX), este compartilhando suas peculiaridades marcantes: as relações despóticas e espoliativas de classe, raça e gênero – com destaque para o assédio sexual, a violência doméstica, o justiçamento pelas próprias mãos e a expropriação do excedente de produção mediante o trabalho escravo e a exploração do trabalho infantil. Essa estrutura de dominação foi levada ao extremo durante a crise do liberalismo do final do século XX, notadamente com a desregulação neoliberal das duas últimas décadas, contexto histórico concreto e pano de fundo geral da saga em que se constitui a narrativa romanesca particular de Cloeh e Geraldo. Ambos resistem à crise com que se defrontam propondo formas contemporâneas de relacionamento: afetivo, aberto e humano. O poliamor.