Dia desses, resolvi ir a um evento à tarde com meu filho mais novo. Por lá, à procura de um estacionamento para deixar o carro, percebemos que havia uma grande quantidade de Mercedes estacionadas.
Tudo passaria despercebido, se não fosse o comentário que meu filho fez: "todo velho tem uma Mercedes em casa, menos meu pai". Ouvi e tentei fazer duas argumentações para ele: a primeira foi dizer que eu não era velho; a segunda, que nem todos da minha idade possuíam condições financeiras para ter uma Mercedes na garagem.
Ele continuou com a conversa e comentou que, assim que eu me aposentasse, a primeira coisa a ser feita seria comprar uma Mercedes.
Gustavo, meu filho, na época desses comentários, tinha apenas nove anos de idade. Porém, na cabecinha dele, já estava estruturada a falsa ilusão de que aposentadoria é sinônimo de segurança para todos os idosos, como se não houvesse mais necessidade de trabalhar, e ainda fosse possível ter uma boa renda para viver e realizar os sonhos que sempre tiveram.
O livro tenta desmistificar esta ideia, e a aposentadoria aparece apenas como um dos inúmeros temas debatidos, alguns majoritariamente tão severos e tão discretos que impedem qualquer possibilidade de qualidade de vida após os cinquenta anos.
Essa ilusão percebida na imaginação do meu filho, infelizmente, está presente na cabeça de vários cinquentões por aí. Pessoas que vivem na ilusão e no único objetivo de querer se aposentar para melhor aproveitar a vida.
São situações, hábitos, inseguranças, medos, procrastinação e a falsa ilusão de que tudo tende a melhorar após a aposentadoria, que fazem com que a realidade na vida dos cinquentões não corresponda sequer a um terço de todas as expectativas nutridas para essa fase.
Pouco se ouve falar sobre o quanto o etarismo, os excessos de vaidade, a falta de planejamento financeiro, o papel fundamental dos filhos no sucesso e/ou insucesso dos aposentados... enfim, armadilhas do dia a dia que, por vezes, passam despercebidas, mas com um peso enorme na busca de uma velhice mais tranquila.
A ideia do livro é mostrar que realmente todo cinquentão pode ter uma Mercedes estacionada na garagem de sua casa. No entanto, não será a aposentadoria responsável por esse feito. Qualidade de vida na terceira idade é fruto de um trabalho intenso, que deve ser iniciado assim que entrar na faixa etária dos trinta anos, com muito planejamento e dedicação. Afinal, gosto sempre de afirmar: nada vem de graça.