Beatriz Lissker analisa a construção do discurso racialista de Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882), intelectual e diplomata francês do século XIX, investigando a forma como seus postulados teóricos ecoam no Brasil ao fomentar um determinado projeto de nação. Em sua obra mais conhecida, o Essai sur l'inégalité des races humaines (1853-1855), ao indagar-se a respeito do que estaria por trás do declínio de todas as civilizações outrora vigorosas, Gobineau encontra na miscigenação racial o imperativo da degeneração. O Conde de Gobineau esteve no Brasil por 14 meses, entre 1869 e 1870, em missão diplomática, e aqui colocou suas teorias à prova ao observar uma sociedade absolutamente mestiçada, cujo barbárie étnica apontava para um catastrófico prognóstico. Nesse sentido, propõe-se examinar a leitura que Gobineau fez do Brasil, avaliando em que medida seu discurso, sobretudo a partir da década de 1850, fornece importantes bases para a edificação de um imaginário e de uma prática nacionalista centrados na ideia de raça. No cerne desse processo, a ciência e a raça representam alicerces sob os quais a intelectualidade brasileira projetou uma nação moderna.