Chico Mendes, aquele tiro não calou o movimento!
Chico Mendes foi assassinado em 22 de dezembro de 1988, em sua casa, na cidade de Xapuri. Três anos antes, em outubro de 1985, Chico e seus companheiros fundaram o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), durante o I Encontro Nacional dos Seringueiros, em Brasília. Esse importante passo em nossa luta aconteceu uma década depois dos primeiros Empates, que era uma estratégia local contra a expulsão dos extrativistas dos seringais e a devastação da floresta amazônica. Homens, mulheres e crianças ocupavam e defendiam, com suas próprias vidas, áreas a serem derrubadas, num enfrentamento organizado por sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR), como o de Xapuri, que era presidido por Chico, e o de Brasiléia, cujo presidente, Wilson Pinheiro, foi assassinado em 1980.
Atualmente, o Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS), 30 anos depois do crime contra Chico, continua lutando pelos direitos desses povos que reúnem, além de seringueiros, castanheiros, coletores de açaí, quebradeiras de coco babaçu, balateiros, piaçabeiros, integrantes de projetos agroflorestais, extratores de óleo e plantas medicinais, entre outros.
Um desses direitos de todos é o direito à informação. Lutamos sempre para incentivar que as pessoas conheçam a realidade da Amazônia como um todo. Não apenas aqueles 20% do território dedicados à agropecuária. Mas, infelizmente, durante muitos anos fomos povos invisíveis na Amazônia.
Este livro de Nilo Diniz relata em detalhes como a informação restrita ou controlada, no período da ditadura no Brasil (1964 a 1985), e mesmo anos depois, prejudicou o movimento em defesa da floresta e das comunidades extrativistas, tornando o nosso líder, reconhecido e premiado fora do Brasil, um ilustre desconhecido no seu próprio país. Mostra também como "esconder" a nossa resistência e o seu líder corroborou com a sua eliminação. Mas o texto demonstra, além disso, como aquele crime contra o seringueiro significou, para a frustração de seus algozes, um verdadeiro "grito no ouvido do mundo".
Este livro é, portanto, mais uma contribuição à reflexão e à ação que este momento politicamente adverso exige na luta dos povos da floresta, incluindo os povos indígenas, em defesa de seus territórios, da Amazônia, da democracia e do direito a uma vida digna.