No livro Chamada , Marcílio Godoi evoca, com delicadeza e atenção aos detalhes da linguagem, modos de vida que hoje parecem distantes, com ênfase especial na cultura popular do interior de Minas Gerais. Essa cultura, embora enraizada no passado, continua a pulsar na rotina de um homem maduro que há muitos anos vive em uma grande cidade. A nostalgia, nesse contexto, revela sua natureza ambivalente: frequentemente vista como imobilidade — já que prende o indivíduo à sombra de algo perdido —, ela também pode impulsionar transformações, ao permitir que o sentimento de saudade rompa a rigidez do presente. O vínculo com as memórias pessoais, assim, não se resume a uma atitude passiva ou melancólica; pode, ao contrário, nutrir a vida interior, servindo como um gesto de introspecção que reavalia o presente à luz da experiência vivida. Trata-se de um processo cheio de nuances, em que as conexões entre passado e presente são costuradas cuidadosamente, e onde os remendos, quando não ocultos, revelam a natureza humana dessa reconstrução.