O leitor tem em mãos um estudo sobre a Poética, de Aristóteles, a partir do olhar orientado pelas artes da cena. Ao contrário da maioria das análises sobre esse texto fundamental para o teatro do Ocidente, grandemente focadas sobre proposições literárias, aqui se enfatiza o que de fato ele é: um manual de dramaturgia e um compêndio de crítica teatral.
A composição trágica, segundo o filósofo, deve reunir seis elementos: o pensamento, a trama, a elocução, as personagens, o ritmo/canto e o espetáculo, parcelas em consonância e atuando em harmonia para que o fenômeno cênico se concretize em plenitude. Nenhuma delas pode ser obliterada ou suprimida – para beneficiar o texto, por exemplo –, não apenas porque desse modo há um abalo no sistema, como, sobretudo, porque assim a ocorrência artística resulta deturpada e incompleta.
O espetáculo trágico, nesse arranjo, era um rito e uma performance com amplas motivações e reverberações, representado, cantado e dançado pelos atuadores e envolvendo a plateia sob vários ângulos, subjetivos e objetivos, uma das mais aclamadas instituições da democracia vigente naquele período. Não apenas os componentes anteriormente destacados são aqui verificados em pormenores, como, igualmente, seus efeitos – a mimese e a catarse – são inscritos nessa ordem fictícia e metafórica em que as tragédias deveriam ser formalizadas.