São Paulo, 2019. Preocupada com a perda progressiva da memória, uma mulher se esforça para reordenar lembranças das figuras que moldaram sua identidade: a mãe, o pai, o irmão e aquelas outras, as empregadas, que acompanharam a história da família por trás de uma barreira invisível e cada vez mais frágil.
O que é uma casa de família? Mais do que o sobrado em São Paulo que abriga o típico arranjo patriarcal da classe média brasileira, a expressão se refere aos locais aonde mulheres de todos os cantos do país, mas sobretudo do Nordeste, vão trabalhar como domésticas, babás, cuidadoras.
Quando Soraia começa a registrar suas recordações, com a aproximação da meia-idade e percebendo as imagens de sua infância se embaralharem na mente, são as vozes dessas mulheres que insistem em ecoar —aquelas que chegavam e partiam de sua casa em fluxo ininterrupto desde que a mãe ficou acamada por uma doença degenerativa. Somando a elas as memórias do pai, em suas jornadas para fechar as contas, e as do irmão mais velho, fascinado pelo empreendedorismo, Soraia tenta dar sentido às experiências que viveu.
Autora estabelecida na literatura brasileira, com obras premiadas publicadas por diferentes editoras independentes, Paula Fábrio estreia na Companhia das Letras com seu livro mais arrebatador. Casa de família explora questões de classe e gênero com maestria, buscando entender, por meio das pequenas relações encerradas em um ambiente doméstico, grandes temas do Brasil contemporâneo, desde os resquícios da escravidão atéas origens da ideologia de extrema-direita.
"Lindo romance contra a indiferença ao trabalho de cuidado delegado às mulheres." — Bel Santos Mayer
"Uma história assombrosa que pode, nesse momento, estar acontecendo na casa ao lado." — Micheliny Verunschk