O livro Cartografar Derivas: método para a investigação de espaços héterotópicos tem o objetivo de debater questões de método. Propõe que derivas urbanas, técnica do caminhar lúdico pela cidade, associadas ao método de investigação cartográfico venham a ser um procedimento de pesquisa para investigação de heterotopias portuárias. As derivas, para além do seu caráter de método de investigação, vêm a se caracterizar como uma forma de percorrer caminhos, sem uma perspectiva de trabalho rigidamente estabelecida. Inspirada na figura do flaneur, coloca para aquele que pratica a errância, a possibilidade de vivenciar a realidade de outras formas, diferente da que está habituado. Os encontros, o acaso, os imprevistos, contingenciam a forma de caminhar e as respostas, reações, que emergem no mesmo momento que eles interferem no caminhar. O espaço que a deriva vem a produzir vai ao encontro do que se considera heterotopia. Conceito cunhado por Foucault, as heterotopias são espaços outros que, distintos da realidade cotidiana, proporcionam aos indivíduos experiências de um espaço de perfeição ou de compensação. No entanto, para efetivar a investigação de um espaço heterotópico ainda é necessário articular, durante a análise, dimensões de saber, poder e efeitos de subjetivação. A cartografia colocada em prática por esta pesquisa distancia-se da concepção de investigação de máquinas desejantes, ou da produção de singularidade, para se aproximar dos estudos foucaultianos a respeito do dispositivo. Constituindo um móbil de investigação e análise, ele comporta dimensões discursivas, não discursivas, experiências e efeitos de subjetivação. No processo de associação da pesquisa cartográfica com a técnica das derivas urbanas, tem-se que se o espaço heterotópico é identificado na realização do caminhar lúdico, sua análise será realizada a partir da articulação de linhas de saber, poder e subjetivação. Práticas específicas e modos de subjetivar marcarão a distinção entre tipos de indivíduos e quem pode ou não ocupar o espaço da heterotopia portuária.