Para escrever poesia há de se ter coragem. É mais revelador do que a nudez, bem mais do que uma carta.
Publicá-los é tão assustador quanto deixar um diário aberto à visitação alheia.
As metáforas não disfarçam os segredos expostos, pelo contrário, grifam com canetas neons detalhes das mentiras ditas, dos escapes amorosos, das mágoas, rancores, desejos proibidos, fome, sede, morte e vinganças. Por isso a poesia alivia, alivia a quem a escreve e aos leitores que nela se identificam.
Mas, reafirmo, há de se ser corajoso, publicar poesia.
A língua portuguesa é a mais eficiente e bela ferramenta poética. Já somos poetas por sermos ninados desde o início com essa canção que repete
sentimentos tão misteriosos: distâncias que nós sabemos descrever como ninguém.
Carol Martins é corajosa e sabe usar a língua materna. Seus poemas insones, descrições de desejos que a atormentam e que poucas vezes parecem ser alcançados, conduzem o leitor a uma trama que vai além dos versos.
Essa é uma das belezas da estrutura, ela nos permite criar personagens que vagam de um poema para outro, nos dá a chance de elaborar histórias nas entrelinhas desse emaranhado de confissões "mal disfarçadas".
Há erotismo nesta obra, mas isso, recomendo, não deve seduzir o leitor a fáceis conclusões. O profano distrai o resto, e ele é enorme.
Neste primeiro livro publicado, a autora demonstra vigor. Espero que a intumescência que possa vir a causar nos mais delicados a palavras sacanas
não os façam temer mais e mais releituras dessas escancaradas declarações de liberdade.
(Fernanda Young)