O capitalismo é, em primeiro lugar e principalmente, um sistema social histórico. Para entender suas origens, formação e perspectivas atuais, precisamos examinar sua configuração real. (...) Tentarei descrever o que o capitalismo tem sido na prática, como tem funcionado como sistema, por que se desenvolveu das maneiras como se desenvolveu e qual é seu rumo atual.""
Assim Immanuel Wallerstein inicia este livro, acessível e claro, que resume as ideias centrais de sua obra monumental, The Modern World-System. Sua análise não é essencialmente lógico-dedutiva, mas histórica. Realiza uma anatomia do capitalismo ao longo de cinco séculos, enfatizando a formação e o desenvolvimento de uma economia-mundo, voltada para a acumulação de capital e articulada em torno de cadeias mercantis hierarquicamente organizadas.
Entre outros temas, Wallerstein analisa a integração de populações ao sistema, os processos de proletarização, a dinâmica da concorrência entre empresas, a relação entre a economia-mundo e os Estados nacionais territorialmente definidos, o papel das lutas de classes, do sexismo e do racismo, a incorporação da ciência à produção e a ideologia autojustificada do progresso.
""Longe de ser um sistema natural"", diz Wallerstein, ""o capitalismo histórico é um sistema patentemente absurdo. Acumula-se capital para que se possa acumular mais capital. Os capitalistas são como ratos brancos em uma roda de gaiola, correndo cada vez mais rápido para poder correr cada vez mais rápido. Nesse processo, algumas pessoas vivem bem, mas outras vivem miseravelmente. (...) Quanto mais refleti sobre esse sistema, mais absurdo ele me pareceu.""
Estando perto de ""mercantilizar tudo"", a civilização capitalista ""chegou ao outono de sua existência"". Como todo sistema histórico, ela deixará de existir, em consequência de processos que exacerbam as contradições internas e produzem uma crise estrutural, que está em curso. Mas levará tempo para se exaurir. É a discussão final deste livro, que destaca três dilemas fundamentais do mundo atual: o dilema da acumulação, o dilema da legitimação política e o dilema da agenda cultural.
Immanuel Wallerstein nasceu em 1930 em Nova York. Lecionou no Departamento de Sociologia da Universidade de Colúmbia, tendo como principal área de pesquisas, entre 1955 e 1970, o continente africano. Depois de envolver-se ativamente no movimento reformista da universidade em 1968, transferiu-se para a Universidade McGill, em Montreal, em 1971. Entre outras obras, publicou ""Africa: the Politics of Independence"" (1961), ""Africa: the Politics of Unity"" (1967) e ""The Modern World-System"" em três volumes (1974, 1980 e 1989). Desde 1976 é professor emérito de Sociologia na Universidade de Binghamton e diretor do Centro Fernand Braudel para Estudos de Economias, Sistemas Históricos e Civilizações. Foi presidente da Associação Internacional de Sociologia.
César Benjamin"