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Canto de muro

Canto de muro

Sinopse

Quem conhece Luís da Câmara Cascudo apenas como folclorista e etnógrafo vai se surpreender (e se deliciar) com este Canto de Muro. "Romance de costumes", como o chamou o autor, o livro pode ser definido como um deslavado namoro com a natureza e reverência pelas espécies animais menos prestigiadas pelo bicho-homem: ratos, cobras, escorpiões, morcegos, aranhas, baratas "profissionalmente famintas", formigas, besouros, o grilo "solitário e tenor", o sapo "orgulhoso, atrevido e covarde na classe musical dos barítonos", as lagartixas, muito educadas, balançando "as cabecinhas triangulares concordando com tudo", todo o povinho miúdo que vive nos quintais das velhas casas, nos cantos de muro, entre trepadeiras, tijolos quebrados, e um tanque, no qual vão se abeberar os bem-te-vis, os xexéus, as lavadeiras de casaca preta. Com tais senhores e senhoras flagrados em suas atividades diárias (a busca de alimento, a luta das espécies, os rituais de acasalamento), Cascudo constrói uma espécie de narrativa épica, repleta de poesia, na qual esses pequenos e humildes seres assumem a grandeza de personagens de Homero. De fato, há alguma coisa de epopeia na caçada de Sofia, a coruja, aos morcegos, no banquete de Fu, o sapo, deliciando-se com uma colônia de mosquitos, mas engolindo também um inconveniente besouro que ferra a sua língua grossa, no grilo roendo madeira velha e tendo como sobremesa sementes verdes e talos tenros, no duelo de Titius, o escorpião, que ao correr "lembra uma gôndola de doge de Veneza", e nas atividades de tantos outros Ulisses e Agamenons do quintal. Só que eles não lutam pela conquista de Troias ou de tesouros. A sua luta é mais humilde, pela sobrevivência da espécie, o que, no fundo, significa também a própria conservação do planeta e a consequente sobrevivência humana. Sob esse aspecto, Canto de Muro é também um manual de ecologia.

Autor

Um dos mais respeitados pesquisadores do folclore e da etnografia no Brasil, Luís da Câmara Cascudo viveu quase toda sua vida no Rio Grande do Norte. Lia muito, recebia visitas, escrevia demais. Em suas viagens fazia amigos e ouvia histórias. Trocava muita correspondência. Por ser um homem muito querido, recebia – por escrito ou ao pé do ouvido – muitas informações sobre "causos" que embalaram o sono e assustaram gerações e gerações. Professor Cascudo, como historiador que era, também pesquisou os caminhos trilhados pelo homem e seu legado nos deixou as mais preciosas informações sobre a cultura brasileira. Em 1954, lançou a sua obra mais importante como folclorista, o Dicionário do Folclore Brasileiro, obra de referência no mundo inteiro. No campo da etnografia, publicou vários livros importantes como Rede de Dormir, em 1959, e História da Alimentação no Brasil, em 1967. Publicou depois, entre outros, Geografia dos Mitos Brasileiros, com o qual recebeu o prêmio João Ribeiro da Academia Brasileira de Letras. O pesquisador trabalhou até seus últimos anos e foi agraciado com dezenas de honrarias e prêmios. Morreu aos 87 anos.