Cântico Espiritual é uma das obras mais sublimes e profundas da literatura mística cristã. Escrita no século XVI, apresenta-se como um poema alegórico composto por 40 estrofes, acompanhado de um extenso comentário teológico e espiritual no qual São João da Cruz explica o sentido simbólico de cada verso.
O poema descreve, por meio de imagens de amor e natureza, a busca da alma pelo Amado, que representa Deus. A alma, sentindo-se separada, sai à procura do Amado com um desejo ardente de união. Essa busca é marcada por etapas de purificação, amadurecimento espiritual e experiências interiores profundas, até que, finalmente, ocorre a união mística — a plenitude da comunhão com Deus.
A linguagem poética é delicada, intensa e profundamente simbólica. São João da Cruz utiliza imagens como o jardim, a fonte, a brisa, a noite e a chama para expressar realidades espirituais que ultrapassam a razão. O amor humano serve como metáfora para o amor divino, permitindo ao leitor compreender, por meio da beleza e da emoção, a profundidade da experiência mística.
O Cântico Espiritual foi escrito durante o período em que o autor esteve preso, e reflete a dimensão interior de alguém que, mesmo no sofrimento e na solidão, experimenta a presença amorosa de Deus. A obra destaca que a união com o divino não é apenas uma realidade futura, mas pode ser vivida já na terra, por meio de um amor purificado e entregue.
São João da Cruz (1542–1591), poeta e místico espanhol, é considerado um dos maiores representantes do misticismo cristão. Sua obra combina uma linguagem literária requintada com uma profunda doutrina espiritual. Cântico Espiritual é, ao lado de A Noite Escura e A Chama Viva de Amor, uma das suas composições mais célebres, e permanece como um testemunho atemporal do encontro da alma com Deus.