A autora compõe alegorias. Diz que nelas pode movimentar-se pelas mensagens sociais, humanas, humorísticas, críticas e sobretudo cotidianas. Vê neste gênero um jeito leve de lançar suas ideias, apropriando-as aos sonetos. Que, se fosse esperar a chegada de uma inspiração genuinamente poética, não poderia instigar, desafiar situações oportunas para a expressão da arte de escrever. Tudo isto porque não precisa de inspiração para escrever um soneto com tons alegóricos que falam de tudo que é impossível e que apesar disso existe no mundo; e ainda do possível que, não raras vezes, é para consumo, homenagens, mensagens, filosofias, desafios, enfrentamentos, situações de drama, tragédias e comédias. Assim faz a parte que a ela toca na literatura, aproveitando sarcasmo, humor, escrachos, ternura e tudo o mais, cada um à sua hora. Assim comunica-se com todos, a todo o tempo e de acordo com o momento de cada um e com disciplina, sem derramamento. Mas, quando a poesia da essência chega, é benvinda para ela, já que não se encontra poesia nas esquinas onde estão os versos para o cotidiano. Mas, a poesia pode chegar nos sonetos que estão neste livro, como efetivamente chegou em quase todos eles. E faz a sua parte, na medida dela e de sua arte, partindo para o soneto desvencilhado relativamente dos classicismos, os quais denomina "heterodoxos", resultando numa plataforma moderna da arte milenar. E cá estão estes sonetos, que ficaram mais com as alegorias, o ritmo e a cadência, abandonando a métrica matemática em favorecimento a uma, digamos, assim, metrificação intuitiva, para maior leveza e permanência no mundo hodierno. Ninguém é poeta o tempo todo. Mas o soneto está na alma e nunca falta à autora o artesanato na oficina alegórica do dia a dia. Está aí o resultado.