Entre o ensaio e a ficção, cada um a seu modo procura escrever inquietações. Descrente de respostas, como o próprio autor afirma, o livro encontra conforto na certeza de que ainda temos perguntas a fazer. Um pássaro que nos escapa, um fim que também é um começo, um enterro e seus desdobramentos, um prazo que se aproxima e a aceitação das nossas próprias limitações. Nos cinco contos do seu livro de estreia, Marcelo Lotufo propõe uma trama que retoma temas sempre atuais como morte, família e passarinhos. Apostando na variação de abordagens e perspectivas, assim como em uma voz sensível e coerente, as histórias de Lotufo se dobram sobre si mesmas, ganhando novos significados em conjunto. Elas constroem uma trama incompleta por desígnio a qual o leitor ou leitora é convidado a preencher com suas próprias dúvidas.
"É mais do que citada a explicação de um escritor, ao entregar um texto que lhe fora encomendado: está longo assim porque não tive tempo de fazê-lo curto. Marcelo Lotufo não corre esse risco. É evidente, pelo resultado logrado, que o autor dedicou o imprescindível tempo longo para pesar, corrigir, refazer ou experimentar os cinco contos deste breve livro. Convenhamos que colocar a literatura acima da presunção autoral e a favor do tom despretensioso é uma escolha inesperadanum ficcionista estreante.
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O que considero de interesse particular em todos os contos, que são diferentes, mas tem a atravessá-los um mesmo fio, concentra-se no timbre da voz do narrador,que nos convence de sua autenticidade. Às vezes essa voz se aproxima do ensaio, mas se mostra sempre despojada diante do leitor, puxando-o muitas vezes para dentro do texto que escreve." Vilma Arêas