APRESENTAÇÃO Há muito tempo pretendia escrever esta história; só que, os afazeres diários, as tarefas paternais e a obrigação (inadiável) com o amor sempre me colocava diante do meu bornal de histórias sentidas, mas não contadas. De histórias vividas, mas não compartilhada. E assim, passando-se os dias, imaginava que jamais a comporia. Mas, enfim saiu. Por todos os percalços que passei, acho que valeu a pena; demais, contar uma história a mais neste emaranhado de histórias de vida não pode se caracterizar como fardo, o máximo, como fado. O livro é um convite, sutil, as descobertas e estranheza de dois seres. Literalmente, um mergulho n'alma, sem contornos, sem ornamentos, sem firulas. Apenas um mergulho no grande brejo de nossas vidas. Na brenha de nossas angústias e anseios. No leito de nossa loucura (invariavelmente necessária). Digo, sem medo algum, que a última estrofe, o último verso, a última linha do livro não representa que o livro tenha, de fato, terminado, findado. Histórias como essa sempre há um (re)começo. Sempre há um vasculhar a mais, um escarafunchar rumo ao novo, ao inevitável (re)prosseguir. O brejo, que antes era 'da brenha do monte', e depois passou a ser 'de maria", ainda corre pelo mesmo leito, pelas mesmas margens, dissolvendo as fronteiras que liga (e desliga) os fragmentos da história dos homens. Ainda corre (ou melhor, ocorre, ou seria socorre?) em sua própria ebulição ritmada. Ainda percorre suas entranhas de águas rumo ao medo e à solidão, minha e de tantos outros. Permitindo que seu banzeiro e seus redemoinhos (sempre em movimento) penetre, definitivamente, no coração do homem, mudando, por completo, a natureza de sua alma e de seus pensamentos. Reconheço que, por muitas vezes ao longo do brejo, ou melhor, das páginas do 'Brejo de Maria' recorri ao sonho, mas este sempre me levou aos deslumbres do acordar para uma realidade que sufoca e mata, para uma realidade que somente eu vivo e sinto. Porém, não com a maestria de tantos outros poetas que conheço (ouso citar o meu amigo Milton Pereira, o mestre Zé Rodrigues e o meu estimado conselheiro Cícero Ferreira). O que sei, e sei por imposição da dor que me abria o peito e amortalhava a alma é que ao final destes regressos, destas caminhadas, sempre me punha a extrair um novo verso, uma nova postura ante os dias sombrios. Por viver uma época de incertezas e de profundas indecisões, uma época marcada pela procura constante da fé, pelo desespero de não se estar só, uma época de dor e solidão, é que escrevi "O Brejo de Maria", como uma forma terapêutica e paliativa à minha própria loucura, à minha insana e desesperada procura por ser entendido. Esta é a minha (doravante, tua, leitor) história. E, por ser tão tua quanto minha, é que não pude deixá-la sobre uma torre, enterrada sobre entulhos. Era imperativo que ela tomasse corpo, que ela sentisse o sopro da vida, que ela submergisse de suas profundezas e fizesse (como fez) tempestade e bonança no meu coração. Deus é testemunha, o pouco (ou muito, dependendo do teu julgamento, leitor) que aumentei, foi pela necessidade poética. O Brejo ainda vive, dentro e fora de mim. O Brejo ainda resiste às intempéries do tempo e a insana imprudência dos homens. Só não sei se resistirás ao julgo crítico dos que não entendem a grandeza da vocação poética e a força dos rios que passam por nossa vida.