Como falar de um livro seu? Como falar desse livro quando você o escreveu para poder se curar? Para poder aumentar a consciência sobre a bipolaridade vivida em si mesmo e não de forma vicária e dedutiva? Bem, é isso que encontrávamos em O PSICÓLOGO - um olhar sobre o discurso psicótico em psicoterapia da sua sintomatologia poética. Que agora se tornou BIPOLARIDADE - o diálogo de um novo olhar. Um olhar sobre a psicose em sua manifestação maníaca e poética. Longe de lugares comuns e de chavões o que temos é um diálogo aberto e sincero apresentado em 33 consultas, nas quais paciente e psicólogo vão estabelecendo vínculos e rompendo com grilhões, ora alimentados por mecanismos automáticos de moralização extemporânea, ora por incompreensões sobre a grandiosidade anímica a que se destina os potenciais à potência e à vontade de verdade. É um livro escrito com sangue como gostava, Nietzsche... mas também como observou Deleuze o ser vem da aestesis, por isso esse livro foi escrito com som, com sonho e música. Com vida, pela vida do autor. Podendo o mesmo ser importante material de estudo psicanalítico e psicológico e certamente poderá ajudar no processo terapêutico de pacientes e familiares que convivem com o Transtorno Bipolar. Fechamos com um trecho da quarta consulta: - Defina para mim "a sua loucura". - A minha loucura tem dois momentos. O do antes do acordar. E o do antes do voltar a dormir. - Esse acordar é um despertar para o mundo? - Para o mundo, para os homens, para si, para as coisas abstratas e concretas. É o despertar da consciência, que já não dorme mais. Só quem acorda sabe que estava sonhando. - Mas sonhar é bom, não é? - Não sei, não tenho esta resposta. Há dois tipos de sonhos: dos deuses e dos homens. Dos deuses é uma leve distração para se arriscarem no acaso. Dos homens é fruto de um desmaio. - É por isso que não dorme? Por que acredita que é um desmaio? -É... "todo dia a gente nasce / todo dia a gente morre" escrevi em certo poema.