Numa São Paulo anterior à Linha Amarela do metrô, o jovem Baldomero – cujo maior desejo é se chamar Valdomiro – transita entre o Centro, a Divisa Diadema e a Cidade Universitária nesta narrativa repleta de desencontros, desordem e solidão que o escritor Bernardo Carvalho chamou de "uma bemvinda e libertária insensatez".
Operador de telemarketing e afeito às noitadas gays que acontecem entre o baixo Augusta e o Largo do Arouche, este quase anti-herói, em uma eterna crise de identidade expressa no próprio nome, tenta cursar a faculdade de geografia na Universidade de São Paulo, mas acaba caindo nas estatísticas de evasão universitária enquanto mal consegue pagar o aluguel.
Fernanda, sua colega de apartamento e figura de autoridade temerosa, insiste para que Baldomero – Babá, para os íntimos – lhe dê um tempo sozinha em casa para comemorar o aniversário com as amigas. O protagonista não consegue cumprir o pedido; nem ouvir com atenção as confidências de seu melhor amigo, Henrique; ou ainda ter um relacionamento afetivo satisfatório com a família ou com os homens que deseja. Inábil e autocentrado, frágil como qualquer masculinidade, o que Baldomero realmente consegue é se complicar cada vez mais.
Em uma linguagem experimental que alia prosa, poesia e bom humor, Leandro Rafael Perez estreia na ficção com uma pequena ode ao Ulysses de Joyce que tem um pé na viadagem e outro nos problemas do século 21. Ao discutir a funesta interseção entre o desejo dos homens gays pelo másculo e a pressão geral para que eles sejam apenas e exatamente isso em toda sua carga de misoginia e apatia, o autor dá à luz um personagem inesquecível em sua insignificância. Não é à toa que Baldomero deambula por toda a cidade, mas o que predomina neste romance é a inação, a sensação de paralisia que é tentar viver e pensar enquanto se trabalha e sobrevive na era do consumo.