Este livro de Bento Moreira Lima tem todos os ingredientes para o leitor gostar:
bem escrito, profundo conhecimento do assunto tratado e inspirado em boas fontes.
Tudo isso aparece diante dos olhos do leitor sob a forma de uma narrativa fluente,
quase coloquial, em que o autor, com habilidade, mistura ficção com realidade, para
focaliza um movimento que veio à tona no Maranhão, na fase em que o Brasil vivia
sob a égide regencial. Bento, com agudo senso de pesquisa, trouxe a lume um
dos episódios mais importantes da História do Maranhão – a Balaiada, para narrar sob
a forma de romance, as peripécias de uma luta entre as elites da época, aglutinadas
em torno dos partidos liberais, representados pelos bem-te-vis, e os conservadores,
agrupados em torno dos cabanos. Nessa luta, figuras exponenciais do jornalismo
maranhense tomaram parte, a exemplo de João Lisboa, Odorico Mendes e José
Cândido de Moraes e Silva, este, sofrendo tenaz perseguição dos opositores da
Balaiada, que o levaram ao sofrimento e à prisão. O autor trouxe, também, para as
páginas de seu livro dois fatos que serviram de moldura à luta entre liberais e
conservadores. Primeiro, as renhidas refregas dos líderes balaios, Raimundo Gomes e
Manuel Francisco dos Anjos, contra os donos de terras, que de maneira impiedosa e
vexatória, tratavam de impor o seu mandonismo sobre legiões de trabalhadores, que
faziam do labor o seu sustento de vida. Segundo, os empedernidos combates
entre vastos contingentes da população negra e escrava, que tinham no valente
Cosme Bento das Chagas, a sua figura de maior realce, e as forças legalistas, sob o
comando de Luis Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, que só deixou o
Maranhão após prender o Preto Cosme, que se intitulava o Imperador e Tutor das
Liberdades Bentevis, enforcado na vila de Itapecuru-Mirim. Como caldo de
cultura dessa luta em três dimensões políticas, para agravá-la, a adoção
extemporânea no Maranhão da famigerada Lei dos Prefeitos, que desencadeou uma
série de atos violentos contra os setores sociais mais humildes e que acirrou os
ânimos de injustiça e a luta entre dominados e dominadores. Todo esse cenário de
realismo, Bento transportou para o seu livro, o qual se enriqueceu com a presença de
dois protagonistas, forjados pela invejável criação do autor: um homem chamado
Raviola e uma mulher conhecida por Margarida, que viveram naquela saga um tórrido
romance de amor, que a despeito das dificuldades e das adversidades, encontraram a
paz e a felicidade que tanto procuravam. São Luis, abril de 2016.Benedito Buzar