Avessos do tempo, de Fábio Wolf, sendo um livro de poemas, é também um retrato emocional de sua geração, que atinge a maturidade numa década encerrada de forma perturbadora neste 2020 cheio de acontecimentos angustiantes, emoldurados por uma pandemia ainda sem prazo para ser debelada. Sua geração moveu-se entre os polos da esperança e da frustração na velocidade da internet, assistiu à ascensão da esquerda no cenário brasileiro e latino-americano e jamais imaginou que essa ascensão desaguaria na vitória da extrema direita, no Brasil e nos EUA. Também na velocidade das redes sociais, sem tempo sequer para se curar das últimas feridas, sua geração chega aos 40 anos de idade assistindo a sucessivas vitórias da esquerda pelo continente americano e à derrocada da extrema-direita nos EUA, no encerrar de um 2020 aziago, mas que deixa entrever, ao seu final, alguns – poucos, mas luminosos – raios de sol no combate à pandemia, mas também na política, na cultura e nas ciências. Impossível que esse movimento pendular da década que se encerra não produzisse nas almas, principalmente nas dos poetas, sinais, ranhuras e feridas, algumas profundas, cujas cicatrizes serão estudadas pelos historiadores do futuro.