Partindo de uma discussão que consiste em apontar, ainda que de forma breve, uma evolução teórico-referencial das fases da crítica do Grande Sertão: Veredas, este livro procura identificar, no conjunto das imagens veiculadas pelo romance, o que é (re)produzido no texto sobre a mulher Diadorim, a personagem tomada para apreciação neste estudo como elemento da poética de Rosa.
Em Ave Diadorim – imagética da mulher em Grande Sertão: Veredas o interesse recai sobre a poesia que de Diadorim emana, por intermédio do que o narrador Riobaldo vê. Nesse aspecto, o livro aponta que se estabelece no romance rosiano, para as representações sobre a mulher, um laboratório de criação que busca dialogar com os gêneros mais tradicionais do saber literário, como o épico e o lírico. Assim, por associação, é do poema de narrativa épica que se aproxima Diadorim quando cotejada pela ótica da donzela-guerreira; assim como se aproxima do modo de produção lírica, a arte de Rosa, quando na concepção da personagem poetizada pela insistência semântica das aves, com adequação bastante significativa de representação via metáforas (símbolos?) no romance.
É por deleite, mas também por motivação pela descoberta da possibilidade amorosa entre os parceiros de jagunçagem - embora esse conhecimento lhe chegue tardio - que o narrador se faz ainda mais poeta da idealização. Deita sobre a heroína um olhar lírico-amoroso que reverbera em tudo que busca descrever: pássaros e paisagens do Grande Sertão. Cabe à jovem, no romance, constituir mediação dessa subjetividade, pois com ela, e somente ela, Riobaldo aprendera a apreciar as "belimbelezas" dos Gerais. Quando vista assim, em perspectiva mais amorosa, Diadorim é andorinha pelo sertão. É canto, é poesia, é ave em arribação.
Relacionada ao épico, a Diadorim donzela-guerreira reúne em torno dela as contradições de uma representação, a gravitar entre a insurgência e um modelo de repetição. No que essa figuração em Grande Sertão: Veredas aparece reforçando valores da tradição romântica, ou está em conflito de representação da feminilidade da heroína, merece apreciação. No final da narrativa, o(a) leitor(a) perceberá que não é a donzela que se nega, pelo travestimento da moça na obra, mas a guerreira mesma, que nela há, e que a cultura androcêntrica teima em não admitir.