As profundas transformações sofridas em diversas áreas da sociedade, sobretudo aquelas do final do século passado e início do século XXI, deixaram como saldo o desafio de gerir as mudanças culturais e artísticas na contemporaneidade.
No âmbito tecnológico, elas se intensificaram de modo que afetaram as formas de viver, trabalhar e se relacionar, pois a humanidade foi inserida em redes de comunicação nas quais as informações circulam de maneira ininterrupta, em tempo real, dando origem à sociedade em rede, como foi pontuado por Manuel Castells (1999), fazendo emergir, como consequência, uma sociedade de cultura hipertecnológica. Isso intensificou, inclusive, a necessidade de mobilidade não apenas física de pessoas e objetos, mas também a informacional, que impulsionou ainda mais a expansão dos suportes tecnológicos (iPod, iPhones, tablets etc.) e, consequentemente, afetou e acelerou os modos de divulgação, apreensão e reprodução dos bens sociais, econômicos, culturais e artísticos em larga escala.
Se, por um lado, essas mudanças estimularam a necessidade de ampliar a mobilidade informacional e impulsionaram a expansão dos suportes tecnológicos, por outro, as práticas artísticas contemporâneas foram também ampliadas de modo a afetarem suas condições de produção e de estética.
No campo literário, o surgimento de sites e plataformas digitais criados para suportes de escrita de ficção na rede, num contexto de cultura participativa entre homens e máquinas, cujos algoritmos tornam-se, cada vez mais, autônomos e capazes de "produzir textos", contribuiu para dilatar as fronteiras das categorias estéticas do próprio campo e colocar em questão a forma de pensar a própria literatura e seus modos de produção.
Isso nos coloca de volta à pergunta de Foucault "o que é um autor?" ou "o que é um autor no século XXI?". Talvez tenhamos que reelaborar a concepção de autoria mediante as novas práticas na contemporaneidade.
Diante dessas transformações, é possível dizer que estamos presenciando um momento de pós-autoria?
Na tentativa de responder às indagações cada vez mais pulsantes, o presente livro propõe analisar as transformações que alteraram de modo significativo o funcionamento da autoria, caracterizando um deslocamento na compreensão do papel do autor e considerando as produções contemporâneas, sobretudo das fanfics.