Enquanto os trens continuam transitando pelos trilhos e os bares repletos de homens vazios, com suas respectivas mulheres mais ou menos atentas em algum outro lugar, há um divórcio e um violamento, um homem rico se matando e mais alguém suicidando a cada 40 segundos em todo o mundo, segundo a OMS.Há também uma mulher que apanha e cala, uma outra, infeliz, indo de tonta, um jovem e uma criança estrangeiros e mudos em suas próprias casas. Há também um relacionamento comercial que morre no berço, um próspero negócio sendo perdido para sempre, o funeral de uma longa amizade e o sepultamento de uma grande paixão acontecendo a cada esquina.Todos estes eventos têm 2 pontos em comum: o primeiro é que não acontecem só aos sábados, como na poesia do Vinícius de Moraes, mas em todos os dias das semanas, meses e anos. O segundo é a falta de um par de ouvidos disponíveis e funcionando regularmente, como os maridos, as ondas da vida e os trens da poesia, que impeçam estes acontecimentos.Muitos se dedicam a falar, falar e falar, mesmo sabendo que não estão sendo ouvidos. Da mesma forma, quem ouve parece pouco se importar com o que o outro esteja falando, fechado que permanece em seu próprio mundo.O resultado é que a comunicação entre as pessoas vai minguando por falta de zelo, de cuidados e cultivo. Isto gera aflição, angústia e desorientação pessoal e social. É a lei do uso e desuso da capacidade de audição. Nossos ouvidos têm se ocupado mais com os ruídos deste mundo que com as vozes de seus habitantes. Alguns adolescentes e alguns idosos às vezes passam dias inteiros sem serem ouvidos e, se o forem, quase sempre será com pressa, impaciência e descaso.O saber ouvir é coisa de amigos, de quem quer bem e respeita. É coisa de gente civilizada e polida, independentemente da idade e da linguagem.Quem o ouve melhor: seu vizinho, seu chefe, seu colega, seu cachorro, seu cavalo ou seus filhos? Com certeza, os três últimos.Não se trata aqui de pretender ensinar ninguém a ouvir, mas de despertar as pessoas para o fato de que nossas comunicações e seu bom uso são um dos maiores patrimônios de nossa espécie. Seu desuso está gerando sua atrofia, e sua atrofia gera o empobrecimento de nossa civilização.É para chamar atenções para este tema inusitado, de discussão premente visando a retomada de um hábito trivial e ancestral de nossa espécie, para dar mais cores e um pouco mais de alegria àquelas cenas, que escrevi um livro chamado Auditória – quem sabe ouvir, vende melhor e vive melhor!Sem a pretensão de esgotar o assunto nem de ser uma referência teórica, acadêmica ou terapêutica, visa ser um manual prático e objetivo para ser lembrado naqueles momentos de escuta casual e fortuita, tão importantes quanto as realizadas de forma profissional e mais sistemática. Nele são abordadas pelo menos 15 das formas mais comuns de se ouvir, cada qual recomendando posturas próprias, desde a audição coletiva até a audição fraterna, a mais completa e acolhedora. Também são apresentadas várias recomendações de atitudes e posturas corporais para que este gesto seja realizado em sua plenitude, de forma adequada a cada circunstância, visando o entendimento, o respeito e a atenção a quem fala. Ganham ambos, porque quem fala é compreendido e quem ouve é tido como empático, atencioso e distinto.O que fiz foi reunir em um único endereço um grande volume de informações sobre este tema e, a partir daí, desenvolver alguns insights e elaborações visando lapidar e facilitar a adoção deste hábito tão salutar. Assim, entre outras coisas, elaborei a base da Abordagem 4D, que foca nos perfis psicológicos tanto de quem ouve quanto no de quem é ouvido, tornando as audiências mais proveitosas e gratificantes, particularmente nas abordagens dos processos de vendas, que assim poderão se tornar mais eficazes e produtivos.Se lembrarmos que estamos a cada momento de nossas vidas tentando vender ou oferecer, algo a alguém, fica fácil percebermos o quão oportuno e útil é o conhecimento e domínio