Júlio Medaglia, com uma batuta, é covardia. Quero vê-lo é reger palavras. Pois, neste livro, Júlio extrai música de laranjas, vinhos, araras, uma válvula de transmissor e até do balanço comercial de uma empresa. O que esperar, aliás, de um sujeito que já deu conselhos a Stanley Kubrick, bebeu com Astor Piazzolla, teve uma epifania em Parintins, musicou Grande sertão: veredas e, de calças curtas, viu o elenco do Scala de Milão sentado a uma mesa de restaurante em São Paulo?
Os textos reunidos em Atrás da pauta — histórias da música soam como um concerto da inteligência. Por eles passam grandes nomes de várias disciplinas: Stravinsky, Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno, Satie, Cage, Boulez, Charles Ives, Herbert Read, Ernst Lubitsch, Orlando Silva, Gene Kelly, Bernard Herrmann, Muhammad Ali, muitos mais — prova de que o século XX não foi um tempo tão mal assim para se viver.
A facilidade com que Júlio passa da "alta" à "baixa" cultura sem nos darmos conta de qual é qual é a de um maestro tão à vontade numa casaca quanto em solenes mangas de camisa.
RUY CASTRO