Uma mulher branca, cientista social, professora de universidade, em seus trabalhos junto às comunidades, se apaixona por um negro, com quem tem uma filha.
Ele, estudante de Direito, numa abordagem policial, é flagrado com uma caderneta em sua mochila com anotações de tráfico de drogas. Ele é preso.
O enredo se desenvolve no período de sua prisão, o advogado tentando tirá-lo de lá, a filha crescendo sem o conhecer. Narrado em primeira pessoa, a personagem consegue envolver o leitor nos seus conflitos diante de seu cotidiano dividido entre o trabalho, a casa, os cuidados com a filha e as suas visitas a esse pai na prisão.
Nesse seu quarto romance, Lilian Fontes traz, na sua linguagem “Sempre límpida, atenta e trabalhada”, como apontou Heloisa Teixeira (então Heloisa Buarque de Hollanda) na orelha de seu livro De olhos bem abertos, a abordagem de questões raciais, de classe social e do feminino na visão de uma personagem nascida numa classe privilegiada.
A história passada no Rio de Janeiro, aponta os olhares há muito problemáticos sobre a distância entre as classes que habitam a cidade.
Na esteira da emergência das leituras recorrentes sobre essas questões, ASSIM EU NASCI, é um complemento para atiçar essa reflexão.
O convite a entrar neste livro curto, tão poucas páginas, mas com tamanha intensidade, começa na primeira frase: “Nasci. Não em berço esplêndido, fora disso. Nem em casa sem esgoto, sem luz elétrica, sem pão para o café da manhã. Não foi assim”.
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