Iniciando o relato da tentativa de assalto sofrida na Avenida Graça Aranha, conta-se que, a alguns anos do pretérito, quando saíra do trabalho lá pelas dezenove horas, Alysson resolvera ir até um clube da própria empresa. Queria se divertir e se esquecer, ainda que de um pouco do lado negro da existência efêmera e passageira, insólita e infrequente e transitória temporária que, em todos os tempos tem permeado a existência do ser humano. - YOSEPH YOMSHYSHY - Assalto na Avenida Graça Aranha. Alysson, que já estava com trinta anos completos, não era casado do tipo que ostentava uma Certidão de Casamento emitida por algum cartório, mas vivia, maritalmente, com uma mulher tão azeda e amarga, em sentido figurado é claro, quanto a lima da Pérsia, quanto o limão siciliano, inconstante, exploradora; um protótipo de Lola Montez do século vinte, desorganizada ao extremo, arrogante e, acima de tudo problemática. O problema... Não era chegada ao treinamento, ao exercício e a pratica do sexo, normal exercido entre um casal, por um distúrbio de comportamento adquirido quando aos vinte e dois anos de idade –; uma relação sexual meio forçada, quase estupro, levada avante por um alcoólatra inveterado que residia no mesmo bairro que toda a sua família, em um misto de inocência e descarga de hormônios, perdera a virgindade, mas, depois do defloramento, se arrependera. Na verdade, nunca se abrira para falar do assunto com quem quer que fosse, nem mesmo uma coleguinha de sua idade, mas, ao que tudo indicava, tinha lá no fundo do âmago, encravado nos oitenta bilhões de neurônios, um verdadeiro asco, aversão pelos homens. Alysson, mergulhado na sua habitual tormenta de espécie de marido rejeitado, trabalhava, todos os dias, além do expediente normal, mais uma, duas, duas horas e trinta minutos e, às vezes, para se distrair, tomava dois ou três chopes no conhecido bar "Amarelinho". - YOSEPH YOMSHYSHY - Assalto na Avenida Graça Aranha. Naquela sexta-feira nem muito quente e nem muito fria, não fugira ao hábito contumaz, mas, guardara os documentos sob a sua responsabilidade, fechara as gavetas da escrivaninha, desligara o ar condicionado, a calculadora da marca HP 12 C, companheira inseparável na administração de contratos de prestação de serviço e outras correntes, e com a qual reajustava os instrumentos contratuais, fizera a última ligação e se fora. No corredor da empresa, contiguo aos elevadores, três; já quase perto do elevador do centro, se encontrara com a Vera Lucia que, cansada da jornada da semana, se retirava para o repouso semanal. Nada mais justo e oportuno... Apertara o botão para chamar pelo elevador comandado pelo ascensorista, adentrara ao maquinário no décimo andar, e, na portaria, depois de cumprimentar ao Genésio, olhara para o mostrador do relógio apenso ao hall de entrada do prédio. O instrumento de medição do tempo não muito moderno marcava nada mais, nada menos do que dezenove horas e quarenta e oito minutos –; era horário de verão. Alysson deixara, de propósito, uma valise do tipo 007 que, usualmente, o acompanhava na estante de sua sala. Não queria, de fato, atropelos ou embustes. - YOSEPH YOMSHYSHY - Assalto na Avenida Graça Aranha. A carteira de documentos e de numerários que, ao cair da tarde, antes de se encerrar o expediente bancário, havia sacado, no bolso do paletó e lá se fora para a diversão; era a segunda vez em dez anos que ia ao clube dos empregados da empresa em que emprestava a sua especialidade. Afinal, não era contumaz nesse tipo de saída ou escapadela porque não bebia e não era muito adepto, nem das badalações e nem de espaços apinhado de gente.