Sabemos que uma obra de arte tornada pública não é mais de seu autor. Ela tem vida, o que permite um diálogo entre a obra e o espectador/leitor. Tendo ela um mundo próprio, diz algo para além do que pensava seu criador. A obra de arte possui um dinamismo inerente de tal forma que configura e reconfigura vivências. No caso de Vidas secas, não cabe aqui analisar a literatura de Graciliano Ramos, mas sim dialogar com o romance, com suas personagens que, uma vez criadas, ganharam vida própria, liberdade. Por isso, este trabalho não se atém à análise literária de Graciliano Ramos; a pretensão é fazer a hermenêutica do mundo de sua obra, buscando o não-dito, a saber, a voz do silêncio das personagens, o que não está dito explicitamente por elas, pelo narrador e, por detrás da criação, pelo autor.