Depois de revirar a vida e, consequentemente a história da entidade mais querida do Brasil no livro "Zé Pelintra - Boa Noite pra quem é de Boa Noite", Zezinho França nos presenteia com uma nova obra que, na verdade é uma homenagem às mulheres, ao seu empodeiramento e a fortaleza que só a Deusa-Mãe traz na sua essência. Na obra "As Três Marias – Padilha, Mulambo e Quitéria", este grande estudioso dos Conhecimentos da Religiosidade Brasileira, - aliás, título este da coleção em que mais este livro faz parte, e que começa com o mais popular guia espiritual do Brasil, "Seu Zé Pelintra" - mistura ficção, a partir do historiador Paulo de Castro e Souza e realidade, como o inédito e único caso existente até os dias de hoje, do assassinato a tiro de um comerciante chamado Álvaro, ocorrido em Duque de Caxias na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. O crime ocorreu em agosto de 1979, e teria sido praticado a mando de uma entidade de Umbanda, a pomba-gira Maria Padilha. E foi a própria entidade espiritual que, usando uma médium como "cavalo" confessou o crime em plena delegacia de polícia, fazendo a "alegria" dos jornalistas de plantão e dando margens à inúmeras matérias sensacionalistas nos jornais cariocas da época. A obra de Zezinho França é, na verdade "a grande saga das mulheres inseridas numa sociedade machista", vítimas da perseguição secular, acusadas de bruxaria e feitiçaria, mas que demonstram força e luta, características da alma feminina. Aliás, ele explica de forma envolvente os três aspectos das Pombagiras como a "Cigana, a Feiticeira e a Prostituta". "As Três Marias..." nos leva ao nordeste, onde conhecemos uma bela adolescente que se transforma numa forte mulher, deixando o barraco que morava no mangue pernambucano e seguindo o destino determinado pela Pomba-Gira Maria Quitéria, nos trazendo um final emocionante e surpreendente, mas com um tom de alerta sobre tão excêntrica entidade espiritual: "O que ela promete, ela cumpre". Mas a história não fica só em terras pernambucanas, perpassa os continentes e os séculos para uma viagem à Europa do século XIV, e nos mostra, numa verdadeira aula de história a vida de Maria Padilha até sua morte vítima de Peste Bubônica, e as primeiras invocações à esta pomba-gira, ainda no século XV por feiticeiras espanholas e portuguesas que a denominavam "Dona Maria Padilha e toda a sua Quadrilha". Já a história narrada sobre Maria Mulambo é outra preciosidade de riqueza, sofrimento e fé. Aliás, com as Três Marias – Padilha, Mulambo e Quitéria – não se brinca. Vale à pena se deleitar nesta obra de Zezinho França e, ao final, chegar à conclusão que é latente no livro: "(...) que toda mulher é uma bruxa em si". Laroyé! Gil Campos Jornalista, escritor e dirigente de Umbanda. É membro da Academia Guarulhense de Letras-AGL