[...] Já várias vezes falamos do texto fundamental de Romanos 3,25, no qual Paulo claramente retoma uma tradição da primeira comunidade judaico-cristã de Jerusalém, designando Jesus... como hilasterio. Com esse termo, como vimos, indica-se a cobertura da Arca da Aliança que, durante o sacrifício expiatório no grande dia da Expiação, era aspergida com o sangue de reparação. Digamos imediatamente como agora os cristãos interpretavam esse rito arcaico: não é o contato de sangue animal com uma alfaia sagrada que concilia Deus e o homem. Na paixão de Jesus, toda a imundície do mundo entrou em contato com o imensamente Puro, com a alma de Jesus Cristo e, desse modo, com o próprio Filho de Deus. Se habitualmente a realidade suja, através do contato, contagia e mancha a realidade pura, aqui temos o contrario: onde o mundo, com toda a sua injustiça e as crueldades que mancham , entra em contato com o imensamente Puro, aí Ele , o Puro, revela-Se o mais forte. Nesse contato, a imundície do mundo é realmente absorvida, anulada, transformada por meio do sofrimento do amor infinito. Visto que no Homem Jesus está presente o bem infinito, agora, na história do mundo, está presente e ativa a força antagonista de toda a forma de mal; o bem sempre infinitamente maior do que toda a massa mal, por mais terrível que esta se apresente. ( Ratzinger, 2011.)