Na tediosa paisagem de domingo surgiram nas ruas da cidade diferentes grupos que reuniam, cada um, aproximadamente 30 pessoas. Com roupas coloridas, tocando diferentes instrumentos, dançando pelas ruas desertas e cantando versos em louvor à N. Sra. do Rosário, negras e negros de Serra do Salitre, Minas Gerais, desfilavam para ninguém ver, mas cumpriam rigorosamente a função de homenagear Nossa Senhora. Eram os congados que inundavam a paisagem e caminhavam rumo à igreja. A batida ritmada dos tambores, a alegria dos/as dançadores/as e o colorido das suas vestes preenchiam olhos e ouvidos, em contraste à sua ausência e silêncio que marcaram os dias anteriores. Naquele dia de dezembro, a parcela negra e empobrecida de diferentes cidades da região estava reunida no Encontro Anual de Congadeiros. Isso permitia a essas pessoas emergirem de posições subalternas e praticamente invisíveis para protagonizarem momentaneamente a cena social a partir de uma forma única de louvor herdada da escravidão. Desse surpreendente primeiro encontro, resultou uma pesquisa de campo realizada em 2004 e cujo resultado é apresentado neste livro.