Do premiado autor Dias Gomes, As primícias é uma metáfora das relações de poder. Narrativa sobre a revolta de um jovem casal contra o privilégio sexual do proprietário de terras. Peça de significado amplo e universal.
Sempre atento à realidade brasileira, Dias Gomes desfrutou de elementos deste panorama para inspirar suas peças. Em sua obra teatral reside o empenho contumaz por valores político-sociais, pela preocupação com a realidade local e ao mesmo tempo universal, pela criação de personagens morais e éticos que defendem valores humanos.
Mas foi em um costume europeu, da Idade Média, que Dias Gomes foi buscar inspiração para As primícias. Escrita em 1977, a história se passa em uma grande propriedade rural, em uma época indeterminada, na qual um jovem casal de noivos camponeses só consegue pensar em uma coisa: a noite de núpcias. Mas, em vez de ansiarem pela grande felicidade que vão desfrutar, estão preocupados com quem estará lá no derradeiro momento. Pois pertence ao todo-poderoso amo e senhor o tão temido jus primae noctis, o direito do proprietário de terras à virgindade das noivas camponesas. O marido só tem direito a se relacionar com a mulher na segunda noite.
Contrários a esta tradição, Lua e Mara decidem não aceitar a humilhação e se rebelam contra o costume. Tramam um plano para enganar o proprietário e têm como cúmplice o vigário. O casal vai enfrentar todas as ameaças e os julgamentos impostos, mas as primícias da sensualidade juvenil de Mara serão de Lua. Um grito de liberdade que é iluminado com o poder do amor, em uma noite de revolta e libertação.
Uma sátira poética ao poder absoluto que começava a desmoronar na época de sua produção, As primícias tem sexo e poder como bases desta alegoria sobre o direito do homem à liberdade. Ou, como Dias Gomes a classificou, alegoria político-sexual em 7 quadros.
"Sutil e, com humor, retrata uma realidade que vigorou na Idade Média e que, em alguns países como a França, perdurou até a Revolução de 1789. O espetáculo chegou ao Rio de Janeiro em outubro de 1993, no Teatro João Caetano, e tive a honra de assinar a cenografia e os figurinos... Dias Gomes dizia que a peça havia sido pensada para uma circunstância muito peculiar: o regime de força que dominava o Brasil na época." José Dias