Neste livro, Maysa Bezerra mostra o caminho trilhado desde as primeiras formas de abordar o mundo, isto é, as primeiras formas de amar e destruir, e sua lenta transformação em criatividade e esperança. Como é possível limitar a vontade de tudo querer e tudo consumir, já, imediatamente, sem medida e sem compaixão? O que fazer com essa compulsão que nos habita desde cedo e desafia a nossa capacidade de
transformar a culpa de ter destruído em alegria de construir e reparar? Este livro nos ensina que a criatividade primária é tão intensa quanto a tendência a consumir e a destruir. Quando bons encontros são possíveis, cria-se um espaço potencial. Nasce a esperança de novos encontros, apesar dos desencontros. Maysa apresenta relatos de poemas, casos clínicos e filmes – como a bela análise de A legião estrangeira, de Clarice Lispector, nos quais as formas impiedosas de amar dão lugar ao movimento de reparação de um mundo interno em pedaços, impulsionando-nos a inventar e construir novos horizontes. Trata-se do desafio de se tornar mais plenamente humano.
Elisa Maria de Ulhôa Cintra