A teoria e o discurso político na Idade Média costumam representar seus governantes de forma positiva, idealizada e cercados de virtudes próprias de um bom governante. Porém, nossa inquietação começa justamente quando essa "imagem" da realeza é repetida à exaustão, estando presente de forma maciça nos mais diversos textos e escritos produzidos pela corte do rei. Essa necessidade recorrente de deixar claro o alcance de sua autoridade e a força do poder dos monarcas nos fazem questionar se realmente tal imagem condizia com a realidade. Seria a teoria política um reflexo da realidade ou uma maneira de compensar algo que faltava às cabeças coroadas do medievo? Dessa forma, este livro tem como objetivo principal analisar a teoria política desenvolvida na Idade Média, usando como estudo de caso o reino de Castela e Leão, durante o século XIII. Para tanto, patimos da premissa que essa teoria e o discurso político divulgado por ela não tinha apenas uma função retórica, mas, principalmente, agiam como formas de propaganda em favor do poder régio e do próprio rei. Utilizando sua corte de letrados para produzir uma série de livros e outros documentos endereçados a todo o reino, o rei medieval, e especialmente os reis de Castela e Leão, buscaram na teoria política uma aliada em meio a um longo processo de lutas contra a aristocracia senhorial. Nesse conflito, a visão de um governante soberano e pleno de seus poderes contrastava com os frequentes episódios de insubordinação e traição que a elite protagonizava contra o seu governante.