O surgimento dos espaços à margem é um fenômeno global que demanda um trabalho de antropologia comparativa. Esta obra faz um espelhamento entre os campos de refugiados palestinos no Líbano e as favelas brasileiras, cuja condição atual, às margens da cidade e do Estado, convida a uma aproximação. No Líbano, a situação dos refugiados palestinos é das mais difíceis, já que sua integração na sociedade sempre significou uma ameaça ao equilíbrio confessional do país. No Brasil, embora os habitantes das favelas sejam, em princípio, cidadãos brasileiros, situam-se de facto nas margens políticas, socioeconômicas e jurídicas da sociedade, sendo a favela considerada o espaço do crime e da droga. Amanda Dias se interessa pelos processos sociais e identitários que se desenvolvem nesses espaços marcados pela precariedade e pela estigmatização, e também por suas interações com o Estado e a sociedade na qual se inserem. Ao privilegiar uma abordagem etnográfica no campo de Beddawi e na favela de Acari, ela revela as estratégias de sobrevivência de suas populações e a existência de importantes redes de ajuda mútua. Por fim, dá especial atenção àqueles que identifica como os "intelectuais das margens", artistas e militantes, portas de entrada microssociológicas para se compreender a condição dos refugiados, dos favelados e dos lugares onde vivem. Mais que apontar semelhanças e diferenças ou criar um modelo explicativo globalizante, este exercício comparativo traz consigo a promessa de um olhar renovado.